Quando a comprida escalada terminou e os pés firmamos no último degrau, Virgílio pôs em mim o olhar e disse: “Viste, filho, o fogo eterno e o fogo temporâneo e chegaste ao ponto a partir do qual eu, por mim, nada posso. Até aqui, com engenho e arte guiei teus passos. Toma agora por guia o teu querer. Superaste as veredas íngremes, perigosas. Contempla o Sol que brilha à tua frente, e as ervas, as flores, os arbustos que sem trabalhos este solo faz viçar. Antes que possas mirar aqueles olhos bem aventurados que por virtude do seu prantear a ti me enviaram, podes repousar ou passear pelo campo. De mim não esperes mais nem voz nem aceno; guia-te pelo teu arbítrio livre, reto e bom; sendo erro o não o atenderes. Portanto, com mitra e coroa eu te consagro senhor de ti mesmo”.
Dante em A Divina Comédia, Canto XXVII, p.212
FRAGMENTO – A DIVINA COMÉDIA, DANTE
05/02/2011 por mauravoltarelli
Adoro esta parte da “Divina Comédia”; é de uma beleza singular tanto a obra de Dante como a ilustração em bico de pena do Gustave Doré. Tenho a obra antiga (com a ilustração do Doré). Gosto de vir aqui e descobrir uma alma sensível e que reconhece nos caminhos da arte o sopro delicado; é tão raro nestes dias de “artificiais maneiras, de tendões de aço.”
Abraço.