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Os assuntos que tremem junto ao peito, que se escondem em algum lugar aonde não se chega. Os sofrimentos adormecidos. Quantos séculos para acordá-los. Talvez nunca. Um dia olhei para aquela mulher, de pele cansada e olhos enrugados, esperando…Ela olhava, assim que escutava algum barulho, ou nem precisava escutá-lo. Os movimentos já iam sozinhos do pescoço ao longe, e depois, do longe ao chão. Não era nada. Um dia olhei para aquela mulher que passava os dias sentada. Costurando os fios esticados do tempo, calculando a posição do sol, pensando nas formas das nuvens. Quando passava rápido, também olhei, olhei para o homem que fazia a guarda da rua. Ele a guardava de que? Dos homens que podiam roubar as casas? Mas não havia homens. Dos cachorros que podiam escapar e atacar alguém? Mas não havia cachorros, nem pra onde fugir, nem quem atacar. Talvez, é, talvez ele a guardasse do tédio, e ia e vinha, com um radinho nas mãos. Podia-se escutar os chiados baixos, vez ou outra alguma música. Romântica. Um dia olhei, do meio do mato, o meio da cara do boi. Onde os olhos? Pareciam virados de costas. Revirados por dentro, calculados pelo infinito de onde tinham surgido, para onde um dia teriam voltado. Olhei de novo. Queria que ele me encontrasse, que me dissesse, que me chorasse…Eles só tombaram em direção ao chão de terra. Todos longes. Muito longes. Sozinhos. Todos sozinhos.