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Posts Tagged ‘dança’

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Este poema faz parte do livro “Nymphé e outros poemas”, à venda no site da Editora Medita

Uma sacerdotisa a sibilar
seu canto em um corpo de volúpia.
Assim como as inspiradas por Apolo
eleva-se no equilíbrio
e dança
como quem pisa em pétalas
leve e serena.

Toda vestida de branco
imersa e refeita em luz
aérea.
Mas eis que surge um incêndio
no seio das mansas árvores
agora violentas.
Porta a tua flor rubra
pinta tua boca e tuas faces
aguça teu ávido olhar
e dança
derramando sobre si o vinho
assim como as extasiadas por Dionisio.

Arrebente os princípios
habite o instante do raro frêmito
aquele encontro desejado
em que somos um e o outro
no mesmo tempo.

É ela que sabe
fascinar porque experimenta
o desafio da coexistência
e se faz harmoniosa e suplicante
contida e derramada

por um instante
dança para a vida
por outro
corre para a morte
e começa
o nascimento da sua tragédia.

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“Foi assim que Ana, coberta com as quinquilharias mundanas da minha caixa tomou de assalto a minha festa, varando com a peste no corpo o círculo que dançava, introduzindo com segurança, ali no centro, sua petulante decadência, assombrando os olhares de espanto, suspendendo em cada boca o grito, paralisando os gestos por um instante, mas dominando todos com seu violento ímpeto de vida […] Ana, sempre mais ousada, mais petulante, inventou um novo lance alongando o braço e, com graça calculada (que dêmonio mais versátil!) roubou de um circundante a sua taça logo derramando sobre os ombros nus o vinho lento, obrigando a flauta a um apressado retrocesso languido, provocando a ovação dos que a cercavam […] (eu me reconstruía nessa busca! Que salmoura nas minhas chagas, que ardência mais salubre nos meus transportes!), eu que estava certo, mais certo do que nunca de que era para mim, e só para mim, que ela dançava…”

Raduan Nassar, Lavoura Arcaica

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Salvador Dalí

poesia

No ínfimo espaço
entre o eu e o outro
onde se beija o fugaz
e a vida se desfaz

Volátil vertente
assim tão de repente
qual cinza imprecisa
massa sem presente

Tarde, qual névoa
nem triste, nem bela
sereia, donzela
em transe, vem ela

No corpo do mito
da natureza, o vinho
dança em viagem
de corpo e de arte

Evanesce no sopro
primitivo fosco
tão fora de si
bem transviado e oco

Música há de tocar
Teu desejo a fuga
virá. Não saberá
ao certo onde está

No ritual do sono
sem vela. No quase
rarefeito ar. Inefável
infinito limiar

Na morte do possuir
a si. Tudo foge, ou aqui
ou lá. E o meio?
E o que liquefaz?

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A Sagração da Primavera já foi apresentada em diversas versões nas quais os coreógrafos buscam com olhares peculiares contar a história de uma jovem que precisa ser sacrificada e oferecida ao deus da primavera. Mas, o mais impressionante não é essa antiga lenda russa que serve de pano de fundo para a história e sim o espetáculo de corpo, mente e alma que é apresentado pelos bailarinos no palco. Na primeira versão de Nijinsky, os dançarinos tremem, se contorcem em espasmos, dizem sem dizer, harmonizam seu corpo com a música, promovem uma encontro sublime entre representação e realidade. Eles golpeiam o solo com os pés, contrariando o tradicional “flutuar”, tudo isso em uma atmosfera mais rebuscada tanto no que diz respeito ao cenário quanto em relação ao figurino.


Já a primeira grande releitura da Sagração da Primavera tornou os recursos de cena mais econômicos e retirou a história do contexto regional russo. O francês Maurice Béjart em 1959 transformou a história do balé numa celebração ao amor universal. Para ele, o encontro carnal de um homem e de uma mulher no balé simboliza, também, a união do céu e da terra, a dança de vida e morte – “eterna como a primavera”.

Outras versões de A Sagração da Primavera foram feitas por Martha Graham em 1984 e pela coreógrafa alemã Pina Bausch em 1975. Pina trabalha em sua releitura as relações humanas, tema constante em toda sua obra e concebe a batalha entre vida e morte em um palco coberto de lama que, aos poucos, vai se alojando nos pés descalços, no peito nu dos bailarinos, nas camisolas transparentes das mulheres.

O fato é que em todas as versões de A Sagração da Primavera a ênfase na sexualidade sempre foi uma constante com movimentos pélvicos, violentos, de extrema intensidade, ou seja, os gestos primeiros de Nijinsky foram preservados e aquela vaia inaugural realmente ficou para trás dando lugar à verdade da contestação, aos movimentos de vanguarda na arte, a uma nova forma de dança que incorpora elementos da arte teatral e assim se faz dotada de uma força e essencialidade fora do comum.




Aviso aos navegantes: A Sagração da Primavera, versão de Pina Bausch, foi apresentada no Brasil agora no mês de setembro no teatro Alfa em São Paulo. No entanto, para quem não pôde ver (como esta que vos fala) ficam aqui fotos de algumas versões do balé e também a dica de um espaço no qual o leitor pode encontrar vídeos com trechos de releituras de A Sagração da Primavera. Vale a pena ver e se impregnar de arte no sentido mais completo que este termo pode ter. Arte em essência, beleza, harmonia e intensidade da música, do corpo, do ritmo, do olhar, do tempo e do espaço.

Com toda a força e a esperança da mais bela das primaveras…


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