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Posts Tagged ‘Lygia Fagundes Telles’

Imagem: Divulgação

“Quando mocinhas, elas podiam escrever seus pensamentos e estados d’alma (em prosa e em verso) nos diários de capa acetinada com vagas pinturas representando flores ou pombinhos brancos levando um coração no bico. Nos diários mais simples,cromos coloridos de cestinhos floridos ou crianças abraçadas a um cachorro. Depois de casadas, não tinha mais sentido pensar sequer em guardar segredos, que segredo de mulher casada só podia ser bandalheira. Restava o recurso do cadernão do dia-a-dia, onde, de mistura com os gastos da casa cuidadosamente anotados e somados no fim do mês, elas ousavam escrever alguma lembrança ou uma confissão que se juntava na linha adiante com o preço do pó de café e da cebola” (p.14)

“Estranho, sim. As pessoas ficam desconfiadas,
ambíguas diante dos apaixonados. Aproximam-se
deles, dizem coisas amáveis, mas guardam
certa distância, não invadem o casulo
imantado que envolve os amantes e que pode
explodir como um terreno minado, muita
cautela ao pisar nesse terreno. Com sua
disciplina indisciplinada, os amantes
são seres diferentes e o ser diferente é
excluído porque vira desafio, ameaça. Se o
amor na sua doação absoluta os faz mais
frágeis, ao mesmo tempo os protege como
uma armadura. Os apaixonados voltaram
ao Jardim do Paraído, provaram da
Árvore do Conhecimento e agora sabem”.

Lygia Fagundes Telles, A disciplina do amor (1980)

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Lygia Fagundes Telles, escritora


Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
– Partimos. Vamos. Somos.

(Sebastião da Gama)

Homenagem à Lygia Fagundes Telles, à sua palavra, vocação, suas meninas, sua estrutura da bolha de sabão, seu feminismo, sua crença na continuidade e eternidade dos seres, sua arte de escrever histórias nas últimas páginas de cadernos escolares ou de faculdade, sua arte de escrever o mundo e a sua realidade por meio da ficção, tão ou mais real que a própria realidade, confusão de sentidos e percepções. Homenagem àquela que escolheu ser escritora e mulher, combinando inteligência e beleza!

Lygia por Lygia, a autora inaugura a já belíssima série da TV Cultura, Autor por Autor. A série utiliza diversos recursos visando uma ampla produção de significados. Há uma constante hibridrização da linguagem, são fotos, palavras a brincar no cenário, atores interpretando Lygia, sua mãe, pai e amores, além da própria escritora contando a sua história, desta vez a sua história que perpassa em tantas outras belíssimas e sutis histórias que Lygia criara, com certeza, inspirada na sua primeira e derradeira história!
Um programa lindo de se ver, inteligente, híbrido, rico em signos e linguagem, cheio da vida e da intensidade inerente à palavra escrita, pungente e quente.

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– Acho que sim. Quando noviça, eu pensava muito na minha gente. Sabia que não ia voltar mas continuava pensando com tanta força. Como quando se tira um vestido velho do baú, um vestido que não é para usar, só para olhar. Só para ver como ele era. Depois a gente dobra de novo e guarda mas não se cogita em jogar fora ou dar. Acho que saudade é isso.

Lygia Fagundes Telles em As Meninas

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Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequencias, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões. Não nos esqueçamos das cicatrizes feitas pela morte. Nossa plenitude, eis o que importa. Elaboremos em nós as forças que nos farão plenos e verdadeiros.

Lygia Fagundes Telles em As Meninas

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